
Você sabia que idosos com depressão apresentam pior controle de suas comorbidades, piora da funcionalidade, uso excessivo de recursos de saúde e aumento da mortalidade (incluindo suicídio)? Sim, essa condição, que é frequentemente subdiagnosticada e inadequadamente tratada, performa entre os grandes problemas que incidem sobre a pessoa idosa e que podem levar a um envelhecimento disfuncional.
O termo depressão unipolar tardia engloba tanto o paciente idoso cujo transtorno depressivo se apresentou no início da vida (e não obteve remissão) quanto aquele idoso cujo transtorno depressivo se apresentou pela primeira vez mais tarde na vida. Nos Estados Unidos, homens idosos, principalmente afro-americanos e hispano-americanos, são os que correm maior risco de ter seu quadro depressivo não reconhecido.
Importante ressaltar que depressão não é uma consequência normal do envelhecimento! Sabemos que eventos da vida que ocorrem com o envelhecimento podem gerar tristeza e pesar. Enfrentar a perda de pessoas queridas, adaptações à mudanças de status social (como aposentadoria e perda de renda), perda de função física, social ou cognitiva por adoecimento podem gerar tais sentimentos. Porém, é importante ter ferramentas para diferenciar a tristeza e pesar que são respostas normais à tais eventos de transtornos depressivos propriamente ditos.
Essa diferenciação é essencial pois os impactos trazidos pela depressão são inúmeros e potencialmente catastróficos. A depressão amplifica a incapacidade e diminui a qualidade de vida. Por outro lado, tratar a depressão adequadamente mostrou efeitos benéficos nos resultados de saúde em pacientes com condições médicas crônicas, como diabetes, osteoartrite e dor crônica.
Talvez o mais relevante dos impactos seja no risco de suicídio. Idosos tentam o suicídio com menor frequência do que pacientes mais jovens. Porém, idosos são mais eficazes nas tentativas, levando a uma maior taxa de suicídio completo. Estudos populacionais evidenciaram que homens brancos com mais de 85 anos possuem a maior taxa de suicídio completo entre as faixas etárias (55 por 100.000 tentativas).
Importante também ressaltar que a depressão tardia está associada a um risco aumentado de desenvolvimento subsequente de demência. Na realidade, a relação entre depressão e demência se estabelece em uma via de mão dupla: tanto a depressão pode ser um estágio prodrômico da demência e atua como um fator de risco para a mesma, quanto a demência pode evoluir com sintomas depressivos ao longo de seu curso clínico.
Falando em fatores de risco, o isolamento social, o estado civil viúvo, divorciado ou separado e o nível socioeconômico mais baixo foram associados à uma maior chance de apresentar depressão tardia. Outros fatores de risco relacionados foram o sexo feminino, presença de múltiplas comorbidades, dor crônica descompensada, insônia e comprometimento funcional e cognitivo.
Entendemos, portanto, que identificar adequadamente um episódio depressivo na pessoa idosa é de extrema importância pelos impactos associados à essa condição. Porém, não trata-se de uma tarefa simples. Os sintomas cardinais da depressão maior que conhecemos, como o humor deprimido e a perda de interesse nas atividades habituais, nem sempre estão presentes no idoso deprimido. Encontramos com maior frequência sintomas acessórios como fadiga, perda de peso, dor não controlada, queixas de memória, isolamento social, recusa alimentar, problemas com o autocuidado e abuso de medicações ou substâncias. Frente à um idoso com tais queixas devemos ter um alto índice de suspeição de que a depressão pode ser a causa base dessas queixas.
Frente ao desafio diagnóstico da depressão em idosos, algumas pistas diagnósticas podem ser de grande ajuda. Naqueles com múltiplas comorbidades associadas, a má- resposta ao tratamento da comorbidade, bem como a pouca motivação para participar do tratamento e a falta de engajamento nas consultas deve acender um sinal de alerta para pensarmos em depressão. Em idosos frágeis, devemos estar atentos a sintomas não físicos, regressão social e incapacidade, uma vez que alterações de humor são menos confiáveis como um indicador de depressão, especialmente em idosos acima de 85 anos.
Em idosos, fazem parte da avaliação das queixas de humor a revisão de medicações, exames laboratoriais e o rastreio cognitivo. Instrumentos de triagem e rastreio de depressão são muito utilizados na atenção primária, destacando o GDS, PHQ-9 e a escala Cornell como principais ferramentas. A abordagem multiprofissional desses pacientes é capaz de fornecer uma avaliação global e completa para uma melhor identificação de sintomas e fatores que podem estar intrincados na gênese de disfunções, como é o caso da depressão.
Envelhecer com saúde e plenitude é possível. Apesar dos obstáculos físicos, emocionais e sociais que acompanham o processo de envelhecimento, não devemos normalizar sintomas depressivos como pertencentes a um padrão de funcionamento dessa população. A depressão impacta a vida daqueles que lidam com ela e deve ser, portanto, adequadamente diagnosticada e tratada. Ao garantir acesso a cuidados de saúde mental e promover atividades que incentivem a conexão social, podemos contribuir para um envelhecimento mais saudável e feliz.
Autor
Thiago Felizardo dos Santos, médico (CRM 242.753), especialista em Clínica Médica (RQE 120199), residente de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Referências
1. ESPINOZA, R. T.; UNÜTZER, J. Diagnosis and management of late-life unipolar depression.
UpToDate, 04 out. 2023.
2. TAYLOR, W. D. Depression in the Elderly. New England Journal of Medicine, v. 371, n. 13, p. 1228–
1236, 25 set. 2014.
3. KOK, R. M.; REYNOLDS, C. F. Management of Depression in Older Adults. JAMA, v. 317, n. 20, p.
2114–2122, 23 mai. 2017.
4. VAN DAMME, A. et al. Late-life depression: issues for the general practitioner. International Journal
of General Medicine, v. Volume 11, p. 113–120, mar. 2018.

Você sabia que idosos com depressão apresentam pior controle de suas comorbidades, piora da funcionalidade, uso excessivo de recursos de saúde e aumento da mortalidade (incluindo suicídio)? Sim, essa condição, que é frequentemente subdiagnosticada e inadequadamente tratada, performa entre os grandes problemas que incidem sobre a pessoa idosa e que podem levar a um envelhecimento disfuncional.
O termo depressão unipolar tardia engloba tanto o paciente idoso cujo transtorno depressivo se apresentou no início da vida (e não obteve remissão) quanto aquele idoso cujo transtorno depressivo se apresentou pela primeira vez mais tarde na vida. Nos Estados Unidos, homens idosos, principalmente afro-americanos e hispano-americanos, são os que correm maior risco de ter seu quadro depressivo não reconhecido.
Importante ressaltar que depressão não é uma consequência normal do envelhecimento! Sabemos que eventos da vida que ocorrem com o envelhecimento podem gerar tristeza e pesar. Enfrentar a perda de pessoas queridas, adaptações à mudanças de status social (como aposentadoria e perda de renda), perda de função física, social ou cognitiva por adoecimento podem gerar tais sentimentos. Porém, é importante ter ferramentas para diferenciar a tristeza e pesar que são respostas normais à tais eventos de transtornos depressivos propriamente ditos.
Essa diferenciação é essencial pois os impactos trazidos pela depressão são inúmeros e potencialmente catastróficos. A depressão amplifica a incapacidade e diminui a qualidade de vida. Por outro lado, tratar a depressão adequadamente mostrou efeitos benéficos nos resultados de saúde em pacientes com condições médicas crônicas, como diabetes, osteoartrite e dor crônica.
Talvez o mais relevante dos impactos seja no risco de suicídio. Idosos tentam o suicídio com menor frequência do que pacientes mais jovens. Porém, idosos são mais eficazes nas tentativas, levando a uma maior taxa de suicídio completo. Estudos populacionais evidenciaram que homens brancos com mais de 85 anos possuem a maior taxa de suicídio completo entre as faixas etárias (55 por 100.000 tentativas).
Importante também ressaltar que a depressão tardia está associada a um risco aumentado de desenvolvimento subsequente de demência. Na realidade, a relação entre depressão e demência se estabelece em uma via de mão dupla: tanto a depressão pode ser um estágio prodrômico da demência e atua como um fator de risco para a mesma, quanto a demência pode evoluir com sintomas depressivos ao longo de seu curso clínico.
Falando em fatores de risco, o isolamento social, o estado civil viúvo, divorciado ou separado e o nível socioeconômico mais baixo foram associados à uma maior chance de apresentar depressão tardia. Outros fatores de risco relacionados foram o sexo feminino, presença de múltiplas comorbidades, dor crônica descompensada, insônia e comprometimento funcional e cognitivo.
Entendemos, portanto, que identificar adequadamente um episódio depressivo na pessoa idosa é de extrema importância pelos impactos associados à essa condição. Porém, não trata-se de uma tarefa simples. Os sintomas cardinais da depressão maior que conhecemos, como o humor deprimido e a perda de interesse nas atividades habituais, nem sempre estão presentes no idoso deprimido. Encontramos com maior frequência sintomas acessórios como fadiga, perda de peso, dor não controlada, queixas de memória, isolamento social, recusa alimentar, problemas com o autocuidado e abuso de medicações ou substâncias. Frente à um idoso com tais queixas devemos ter um alto índice de suspeição de que a depressão pode ser a causa base dessas queixas.
Frente ao desafio diagnóstico da depressão em idosos, algumas pistas diagnósticas podem ser de grande ajuda. Naqueles com múltiplas comorbidades associadas, a má- resposta ao tratamento da comorbidade, bem como a pouca motivação para participar do tratamento e a falta de engajamento nas consultas deve acender um sinal de alerta para pensarmos em depressão. Em idosos frágeis, devemos estar atentos a sintomas não físicos, regressão social e incapacidade, uma vez que alterações de humor são menos confiáveis como um indicador de depressão, especialmente em idosos acima de 85 anos.
Em idosos, fazem parte da avaliação das queixas de humor a revisão de medicações, exames laboratoriais e o rastreio cognitivo. Instrumentos de triagem e rastreio de depressão são muito utilizados na atenção primária, destacando o GDS, PHQ-9 e a escala Cornell como principais ferramentas. A abordagem multiprofissional desses pacientes é capaz de fornecer uma avaliação global e completa para uma melhor identificação de sintomas e fatores que podem estar intrincados na gênese de disfunções, como é o caso da depressão.
Envelhecer com saúde e plenitude é possível. Apesar dos obstáculos físicos, emocionais e sociais que acompanham o processo de envelhecimento, não devemos normalizar sintomas depressivos como pertencentes a um padrão de funcionamento dessa população. A depressão impacta a vida daqueles que lidam com ela e deve ser, portanto, adequadamente diagnosticada e tratada. Ao garantir acesso a cuidados de saúde mental e promover atividades que incentivem a conexão social, podemos contribuir para um envelhecimento mais saudável e feliz.
Autor
Thiago Felizardo dos Santos, médico (CRM 242.753), especialista em Clínica Médica (RQE 120199), residente de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Referências
1. ESPINOZA, R. T.; UNÜTZER, J. Diagnosis and management of late-life unipolar depression.
UpToDate, 04 out. 2023.
2. TAYLOR, W. D. Depression in the Elderly. New England Journal of Medicine, v. 371, n. 13, p. 1228–
1236, 25 set. 2014.
3. KOK, R. M.; REYNOLDS, C. F. Management of Depression in Older Adults. JAMA, v. 317, n. 20, p.
2114–2122, 23 mai. 2017.
4. VAN DAMME, A. et al. Late-life depression: issues for the general practitioner. International Journal
of General Medicine, v. Volume 11, p. 113–120, mar. 2018.

Você sabia que idosos com depressão apresentam pior controle de suas comorbidades, piora da funcionalidade, uso excessivo de recursos de saúde e aumento da mortalidade (incluindo suicídio)? Sim, essa condição, que é frequentemente subdiagnosticada e inadequadamente tratada, performa entre os grandes problemas que incidem sobre a pessoa idosa e que podem levar a um envelhecimento disfuncional.
O termo depressão unipolar tardia engloba tanto o paciente idoso cujo transtorno depressivo se apresentou no início da vida (e não obteve remissão) quanto aquele idoso cujo transtorno depressivo se apresentou pela primeira vez mais tarde na vida. Nos Estados Unidos, homens idosos, principalmente afro-americanos e hispano-americanos, são os que correm maior risco de ter seu quadro depressivo não reconhecido.
Importante ressaltar que depressão não é uma consequência normal do envelhecimento! Sabemos que eventos da vida que ocorrem com o envelhecimento podem gerar tristeza e pesar. Enfrentar a perda de pessoas queridas, adaptações à mudanças de status social (como aposentadoria e perda de renda), perda de função física, social ou cognitiva por adoecimento podem gerar tais sentimentos. Porém, é importante ter ferramentas para diferenciar a tristeza e pesar que são respostas normais à tais eventos de transtornos depressivos propriamente ditos.
Essa diferenciação é essencial pois os impactos trazidos pela depressão são inúmeros e potencialmente catastróficos. A depressão amplifica a incapacidade e diminui a qualidade de vida. Por outro lado, tratar a depressão adequadamente mostrou efeitos benéficos nos resultados de saúde em pacientes com condições médicas crônicas, como diabetes, osteoartrite e dor crônica.
Talvez o mais relevante dos impactos seja no risco de suicídio. Idosos tentam o suicídio com menor frequência do que pacientes mais jovens. Porém, idosos são mais eficazes nas tentativas, levando a uma maior taxa de suicídio completo. Estudos populacionais evidenciaram que homens brancos com mais de 85 anos possuem a maior taxa de suicídio completo entre as faixas etárias (55 por 100.000 tentativas).
Importante também ressaltar que a depressão tardia está associada a um risco aumentado de desenvolvimento subsequente de demência. Na realidade, a relação entre depressão e demência se estabelece em uma via de mão dupla: tanto a depressão pode ser um estágio prodrômico da demência e atua como um fator de risco para a mesma, quanto a demência pode evoluir com sintomas depressivos ao longo de seu curso clínico.
Falando em fatores de risco, o isolamento social, o estado civil viúvo, divorciado ou separado e o nível socioeconômico mais baixo foram associados à uma maior chance de apresentar depressão tardia. Outros fatores de risco relacionados foram o sexo feminino, presença de múltiplas comorbidades, dor crônica descompensada, insônia e comprometimento funcional e cognitivo.
Entendemos, portanto, que identificar adequadamente um episódio depressivo na pessoa idosa é de extrema importância pelos impactos associados à essa condição. Porém, não trata-se de uma tarefa simples. Os sintomas cardinais da depressão maior que conhecemos, como o humor deprimido e a perda de interesse nas atividades habituais, nem sempre estão presentes no idoso deprimido. Encontramos com maior frequência sintomas acessórios como fadiga, perda de peso, dor não controlada, queixas de memória, isolamento social, recusa alimentar, problemas com o autocuidado e abuso de medicações ou substâncias. Frente à um idoso com tais queixas devemos ter um alto índice de suspeição de que a depressão pode ser a causa base dessas queixas.
Frente ao desafio diagnóstico da depressão em idosos, algumas pistas diagnósticas podem ser de grande ajuda. Naqueles com múltiplas comorbidades associadas, a má- resposta ao tratamento da comorbidade, bem como a pouca motivação para participar do tratamento e a falta de engajamento nas consultas deve acender um sinal de alerta para pensarmos em depressão. Em idosos frágeis, devemos estar atentos a sintomas não físicos, regressão social e incapacidade, uma vez que alterações de humor são menos confiáveis como um indicador de depressão, especialmente em idosos acima de 85 anos.
Em idosos, fazem parte da avaliação das queixas de humor a revisão de medicações, exames laboratoriais e o rastreio cognitivo. Instrumentos de triagem e rastreio de depressão são muito utilizados na atenção primária, destacando o GDS, PHQ-9 e a escala Cornell como principais ferramentas. A abordagem multiprofissional desses pacientes é capaz de fornecer uma avaliação global e completa para uma melhor identificação de sintomas e fatores que podem estar intrincados na gênese de disfunções, como é o caso da depressão.
Envelhecer com saúde e plenitude é possível. Apesar dos obstáculos físicos, emocionais e sociais que acompanham o processo de envelhecimento, não devemos normalizar sintomas depressivos como pertencentes a um padrão de funcionamento dessa população. A depressão impacta a vida daqueles que lidam com ela e deve ser, portanto, adequadamente diagnosticada e tratada. Ao garantir acesso a cuidados de saúde mental e promover atividades que incentivem a conexão social, podemos contribuir para um envelhecimento mais saudável e feliz.
Autor
Thiago Felizardo dos Santos, médico (CRM 242.753), especialista em Clínica Médica (RQE 120199), residente de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Referências
1. ESPINOZA, R. T.; UNÜTZER, J. Diagnosis and management of late-life unipolar depression.
UpToDate, 04 out. 2023.
2. TAYLOR, W. D. Depression in the Elderly. New England Journal of Medicine, v. 371, n. 13, p. 1228–
1236, 25 set. 2014.
3. KOK, R. M.; REYNOLDS, C. F. Management of Depression in Older Adults. JAMA, v. 317, n. 20, p.
2114–2122, 23 mai. 2017.
4. VAN DAMME, A. et al. Late-life depression: issues for the general practitioner. International Journal
of General Medicine, v. Volume 11, p. 113–120, mar. 2018.

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