10 de mar. de 2024

É possível ser viciado em comida?

Uma resenha crítica

Psicoterapeuta

Ana Luisa

10 de mar. de 2024

É possível ser viciado em comida?

Uma resenha crítica

Psicoterapeuta

Ana Luisa

10 de mar. de 2024

É possível ser viciado em comida?

Uma resenha crítica

Psicoterapeuta

Ana Luisa

Como psicóloga que trabalha com comportamento alimentar, recebo frequentemente o mesmo relato: “Sou viciado(a) em comida”. E, com essa afirmação, percebo algumas dificuldades em comum entre os pacientes:

  1. Perda de controle: Sensação de incapacidade em controlar a quantidade ou o tipo de alimentos consumidos

  2. Comportamentos impulsivos: Agir impulsivamente em relação à comida, mesmo quando se está ciente das consequências negativas.

  3. Culpa e vergonha: Experimentar sentimentos intensos de culpa e vergonha após comer alimentos que julgam como “inapropriados”

  4. Isolamento social: Evitar situações sociais que envolvam comida ou sentir-se desconfortável ao redor de outras pessoas devido à relação complicada com a alimentação.

  5. Dificuldade em regular emoções: Usar a comida como uma forma de lidar com emoções, tanto positivas quanto negativas.

Muito se discute acerca da comparação do vício em comida com a dependência de drogas, devido as semelhanças entre os efeitos no cérebro humano e ao conjunto de características, como: desejo angustiante, perda de controle, consumo excessivo, baixa tolerância, abstinência, angústia e sofrimento.

Tais estudos decorrem de uma tentativa de explicar as razões pelo aumento massivo do peso corporal da população em geral, a qual muito relacionam a ingesta de alimentos altamente palatáveis - aqueles que o resultado dos componentes, como gordura, sódio, açúcar e carboidratos, os tornam mais saborosos. Esses alimentos podem produzir alterações nos circuitos cerebrais semelhantes aos encontrados em pessoas adictas, além de compulsão alimentar e sintomas de abstinência, levando a mudanças comportamentais relacionadas a busca por recompensa, na qual, muitas vezes, o indivíduo se sente sem controle de seus atos.

Quando analisamos somente o açúcar, estudos mostram que, mesmo não ativando as mesmas vias endógenas, assim como as drogas, o açúcar libera dopamina. A dopamina é conhecida como o hormônio do "sentir-se bem”, proporcionando a motivação para um comportamento direcionado a obter recompensas.

Um ponto importante para se analisar é que quando restringimos a comida, nossos corpos são “atraídos” para os alimentos mais palatáveis. Ceder a esses alimentos deixa de ser uma escolha ou “falta de vontade”. É algo biológico, é seu corpo buscando por combustível o mais rápido possível. 

Apesar de estudos mostrarem que sim, comida e drogas apresentam questões comportamentais e biológicas parecidas, as evidências científicas ainda se mostram fracas. Contudo, um ponto relevante é a questão dos alimentos serem grandes reforçadores: as comidas ingeridas são, na maioria das vezes, altamente palatáveis, quanto mais a pessoa come, mais sente prazer, tendendo a aumentar sua motivação em buscar pelo alimento mais vezes. 

Lembre-se que não é só uma questão de ter “força de vontade”. A alimentação depende de muitos fatores e nem todos estão em nosso controle. Melhorar a sua relação com a comida pode ser um processo desafiador, mas buscar apoio profissional e adotar estratégias de autocuidado e autoconhecimento pode fazer a diferença significativa no caminho para a recuperação.

Autor

Ana Luisa Porto D’Andréa (CRP 06/177204), Psicóloga formada pela PUC-Campinas. Aprimoramento em Transtornos Alimentares pelo AMBULIM (Pq - USP), finalizando a especialização em Neuropsicologia com formação em Reabilitação Cognitiva (IPq - USP). Formação em Terapia Cognitivo-Comportamental e formação em Obesidade/Emagrecimento.


Referências bibliográficas

Fletcher PC, Kenny PJ. Food addiction: a valid concept? Neuropsychopharmacology. 2018 Dec;43(13):2506-2513. doi: 10.1038/s41386-018-0203-9. Epub 2018 Sep 6. Erratum in: Neuropsychopharmacology. 2018 Dec 7;: PMID: 30188514; PMCID: PMC6224546.
Hebebrand J, Albayrak Ö, Adan R, Antel J, Dieguez C, de Jong J, Leng G, Menzies J, Mercer JG, Murphy M, van der Plasse G, Dickson SL. "Eating addiction", rather than "food addiction", better captures addictive-like eating behavior. Neurosci Biobehav Rev. 2014 Nov;47:295-306. doi: 10.1016/j.neubiorev.2014.08.016. Epub 2014 Sep 6. PMID: 25205078.

Como psicóloga que trabalha com comportamento alimentar, recebo frequentemente o mesmo relato: “Sou viciado(a) em comida”. E, com essa afirmação, percebo algumas dificuldades em comum entre os pacientes:

  1. Perda de controle: Sensação de incapacidade em controlar a quantidade ou o tipo de alimentos consumidos

  2. Comportamentos impulsivos: Agir impulsivamente em relação à comida, mesmo quando se está ciente das consequências negativas.

  3. Culpa e vergonha: Experimentar sentimentos intensos de culpa e vergonha após comer alimentos que julgam como “inapropriados”

  4. Isolamento social: Evitar situações sociais que envolvam comida ou sentir-se desconfortável ao redor de outras pessoas devido à relação complicada com a alimentação.

  5. Dificuldade em regular emoções: Usar a comida como uma forma de lidar com emoções, tanto positivas quanto negativas.

Muito se discute acerca da comparação do vício em comida com a dependência de drogas, devido as semelhanças entre os efeitos no cérebro humano e ao conjunto de características, como: desejo angustiante, perda de controle, consumo excessivo, baixa tolerância, abstinência, angústia e sofrimento.

Tais estudos decorrem de uma tentativa de explicar as razões pelo aumento massivo do peso corporal da população em geral, a qual muito relacionam a ingesta de alimentos altamente palatáveis - aqueles que o resultado dos componentes, como gordura, sódio, açúcar e carboidratos, os tornam mais saborosos. Esses alimentos podem produzir alterações nos circuitos cerebrais semelhantes aos encontrados em pessoas adictas, além de compulsão alimentar e sintomas de abstinência, levando a mudanças comportamentais relacionadas a busca por recompensa, na qual, muitas vezes, o indivíduo se sente sem controle de seus atos.

Quando analisamos somente o açúcar, estudos mostram que, mesmo não ativando as mesmas vias endógenas, assim como as drogas, o açúcar libera dopamina. A dopamina é conhecida como o hormônio do "sentir-se bem”, proporcionando a motivação para um comportamento direcionado a obter recompensas.

Um ponto importante para se analisar é que quando restringimos a comida, nossos corpos são “atraídos” para os alimentos mais palatáveis. Ceder a esses alimentos deixa de ser uma escolha ou “falta de vontade”. É algo biológico, é seu corpo buscando por combustível o mais rápido possível. 

Apesar de estudos mostrarem que sim, comida e drogas apresentam questões comportamentais e biológicas parecidas, as evidências científicas ainda se mostram fracas. Contudo, um ponto relevante é a questão dos alimentos serem grandes reforçadores: as comidas ingeridas são, na maioria das vezes, altamente palatáveis, quanto mais a pessoa come, mais sente prazer, tendendo a aumentar sua motivação em buscar pelo alimento mais vezes. 

Lembre-se que não é só uma questão de ter “força de vontade”. A alimentação depende de muitos fatores e nem todos estão em nosso controle. Melhorar a sua relação com a comida pode ser um processo desafiador, mas buscar apoio profissional e adotar estratégias de autocuidado e autoconhecimento pode fazer a diferença significativa no caminho para a recuperação.

Autor

Ana Luisa Porto D’Andréa (CRP 06/177204), Psicóloga formada pela PUC-Campinas. Aprimoramento em Transtornos Alimentares pelo AMBULIM (Pq - USP), finalizando a especialização em Neuropsicologia com formação em Reabilitação Cognitiva (IPq - USP). Formação em Terapia Cognitivo-Comportamental e formação em Obesidade/Emagrecimento.


Referências bibliográficas

Fletcher PC, Kenny PJ. Food addiction: a valid concept? Neuropsychopharmacology. 2018 Dec;43(13):2506-2513. doi: 10.1038/s41386-018-0203-9. Epub 2018 Sep 6. Erratum in: Neuropsychopharmacology. 2018 Dec 7;: PMID: 30188514; PMCID: PMC6224546.
Hebebrand J, Albayrak Ö, Adan R, Antel J, Dieguez C, de Jong J, Leng G, Menzies J, Mercer JG, Murphy M, van der Plasse G, Dickson SL. "Eating addiction", rather than "food addiction", better captures addictive-like eating behavior. Neurosci Biobehav Rev. 2014 Nov;47:295-306. doi: 10.1016/j.neubiorev.2014.08.016. Epub 2014 Sep 6. PMID: 25205078.

Como psicóloga que trabalha com comportamento alimentar, recebo frequentemente o mesmo relato: “Sou viciado(a) em comida”. E, com essa afirmação, percebo algumas dificuldades em comum entre os pacientes:

  1. Perda de controle: Sensação de incapacidade em controlar a quantidade ou o tipo de alimentos consumidos

  2. Comportamentos impulsivos: Agir impulsivamente em relação à comida, mesmo quando se está ciente das consequências negativas.

  3. Culpa e vergonha: Experimentar sentimentos intensos de culpa e vergonha após comer alimentos que julgam como “inapropriados”

  4. Isolamento social: Evitar situações sociais que envolvam comida ou sentir-se desconfortável ao redor de outras pessoas devido à relação complicada com a alimentação.

  5. Dificuldade em regular emoções: Usar a comida como uma forma de lidar com emoções, tanto positivas quanto negativas.

Muito se discute acerca da comparação do vício em comida com a dependência de drogas, devido as semelhanças entre os efeitos no cérebro humano e ao conjunto de características, como: desejo angustiante, perda de controle, consumo excessivo, baixa tolerância, abstinência, angústia e sofrimento.

Tais estudos decorrem de uma tentativa de explicar as razões pelo aumento massivo do peso corporal da população em geral, a qual muito relacionam a ingesta de alimentos altamente palatáveis - aqueles que o resultado dos componentes, como gordura, sódio, açúcar e carboidratos, os tornam mais saborosos. Esses alimentos podem produzir alterações nos circuitos cerebrais semelhantes aos encontrados em pessoas adictas, além de compulsão alimentar e sintomas de abstinência, levando a mudanças comportamentais relacionadas a busca por recompensa, na qual, muitas vezes, o indivíduo se sente sem controle de seus atos.

Quando analisamos somente o açúcar, estudos mostram que, mesmo não ativando as mesmas vias endógenas, assim como as drogas, o açúcar libera dopamina. A dopamina é conhecida como o hormônio do "sentir-se bem”, proporcionando a motivação para um comportamento direcionado a obter recompensas.

Um ponto importante para se analisar é que quando restringimos a comida, nossos corpos são “atraídos” para os alimentos mais palatáveis. Ceder a esses alimentos deixa de ser uma escolha ou “falta de vontade”. É algo biológico, é seu corpo buscando por combustível o mais rápido possível. 

Apesar de estudos mostrarem que sim, comida e drogas apresentam questões comportamentais e biológicas parecidas, as evidências científicas ainda se mostram fracas. Contudo, um ponto relevante é a questão dos alimentos serem grandes reforçadores: as comidas ingeridas são, na maioria das vezes, altamente palatáveis, quanto mais a pessoa come, mais sente prazer, tendendo a aumentar sua motivação em buscar pelo alimento mais vezes. 

Lembre-se que não é só uma questão de ter “força de vontade”. A alimentação depende de muitos fatores e nem todos estão em nosso controle. Melhorar a sua relação com a comida pode ser um processo desafiador, mas buscar apoio profissional e adotar estratégias de autocuidado e autoconhecimento pode fazer a diferença significativa no caminho para a recuperação.

Autor

Ana Luisa Porto D’Andréa (CRP 06/177204), Psicóloga formada pela PUC-Campinas. Aprimoramento em Transtornos Alimentares pelo AMBULIM (Pq - USP), finalizando a especialização em Neuropsicologia com formação em Reabilitação Cognitiva (IPq - USP). Formação em Terapia Cognitivo-Comportamental e formação em Obesidade/Emagrecimento.


Referências bibliográficas

Fletcher PC, Kenny PJ. Food addiction: a valid concept? Neuropsychopharmacology. 2018 Dec;43(13):2506-2513. doi: 10.1038/s41386-018-0203-9. Epub 2018 Sep 6. Erratum in: Neuropsychopharmacology. 2018 Dec 7;: PMID: 30188514; PMCID: PMC6224546.
Hebebrand J, Albayrak Ö, Adan R, Antel J, Dieguez C, de Jong J, Leng G, Menzies J, Mercer JG, Murphy M, van der Plasse G, Dickson SL. "Eating addiction", rather than "food addiction", better captures addictive-like eating behavior. Neurosci Biobehav Rev. 2014 Nov;47:295-306. doi: 10.1016/j.neubiorev.2014.08.016. Epub 2014 Sep 6. PMID: 25205078.

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